Melancolia


Tem gente que tem talento para fazer polêmicas e outros para fazer cinema. O diretor Lars von Trier parece reunir as duas coisas com relativa maestria, devido aos prêmios já conquistados e o mal estar causado por suas declarações vistas como anti-semitas no Festival de Cannes 2011, quando promovia Melancolia.

A história tem como pano de fundo a destruição e para ilustrar o tema, usa uma família de relacionamento conturbado, reunida durante um casamento, enquanto um planeta (que dá nome ao filme) está em rota de colisão com a Terra.

Longe de ser um filme de ficção científica tradicional com alienígenas e efeitos especiais mirabolantes, von Trier procura extrair da câmera super lenta o recurso necessário para causar encantamento no espectador e consegue. Algumas sequências são verdadeiras pinturas que mais parecem quadros vivos. E a música clássica é a argamassa necessária para estruturar essa percepção.

O problema, porém, está no ritmo do roteiro e a trama oscila, ganhando nitidez em alguns diálogos e cenas, mas perdendo o foco em outros momentos. Essa falta de coesão é o que poderá provocar no público um certo desconforto e até sono. Embora o conflito dos personagens seja mostrado, eles não se revelam a ponto de transformar aquele que está sentado na poltrona um cúmplice do que está "vivendo".

Sobram silêncios retumbantes, super closes, frases soltas e uma total descrença em relação ao matrimônio. Do ponto de vista estético, as tremidas de câmeras e alguns chicotes (movimento lateral rápido) com elas, são diametralmente opostos a proposta mais contemplativa do longa. Se a intenção era explorar esse "diferente", não funcionou.

Coincidência ou não, num filme de "planetas', o elenco é estelar (Kirsten DunstCharlotte GainsbourgStellan Skarsgard John HurtKiefer SutherlandCharlotte Rampling), mas é quase burocrático, repetindo o esperado. Curiosamente, cabe a Udo Kier um papel que sai do lugar comum ao inserir na trama um humor quase extra-terrestre de tão fora do contexto. O ator é habitué em outras produções do diretor, como Dançando no Escuro, mas seu rosto pode ser facilmente reconhecido em obras populares, como Fim dos Dias e Blade, entre outras.

Anticristo também causou polêmica no mesmo festival em 2009, mas o motivo era seu conteúdo fechado, vigoroso e infinitamente mais impactante. Portanto, os membros da inteligentzia nacional e fãs do cineasta podem achar uma blasfêmia, mas o fato é que Melancolia mostrou-se um cansativo exercício de contemplação com pouca reflexão.

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